André Luís Woloszyn,
é Analista de Assuntos Estratégicos e consultor de
agências internacionais em conflitos de média intensidade.
É indiscutível que os atentados de 11 de setembro inauguraram uma nova fase do terrorismo internacional, a era dos mega atentados que tinha como protagonistas o radicalismo e a intolerância. Foi uma ação ousada em que Osama Bin Laden globalizou definitivamente as ações do extremismo islâmico e tornou conhecida a rede Al Qaeda, fundada por ele em 1982. Paralelamente, o então Presidente dos EUA, George W.Bush lançou seu Act Patriot, um novo conceito de guerra preventiva, invadindo o Iraque por motivos ainda obscuros fomentando uma guerra que durou sete anos, custou trilhões de dólares e alguns milhões de mortos e feridos.
Tomamos conhecimento, ainda, dos horrores praticados nas prisões de Abu Graid e Guantânamo que denegriram a imagem da democracia ocidental e dos valores cultuados por ela através dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. De certa forma, ambos os contendores desta data nefasta acabaram transformando a década num dos períodos mais sangrentos da história ressalvados os conflitos das guerras regulares.
Cronologicamente, a partir do 11 de setembro, sucederam-se diversos atentados em várias regiões do planeta com motivação de cunho religioso e ou separatista. Destacam-se os episódios das explosões em casas noturnas em Bali, na Indonésia e os 900 reféns no teatro Bolchoi em Moscou no ano de 2002, a destruição da sede da ONU no Iraque em 2003, a explosão de trens em Madri e as crianças mortas em escola de Beslan, na Rússia, em 2004, o metro de Londres em 2005, explosão de trem em Nova Deli/India e atentado suicida em Karaschi/Paquistão em 2007, explosão no Hotel Marriot, em Islamabad novamente no Paquistão e uma série de atentados simultâneos na área urbana de Mumbai/India em 2008 seguido pela explosão em metro de Moscou/Rússia em 2010. O mundo assistiu, ainda, uma nova invasão norte americana no Afeganistão e uma guerra entre Israelenses e Palestinos, travada na Faixa de Gaza e região da Cijordânia, que serviu apenas para retro-alimentar o ciclo de violência pelo binômio ação e reação.
Muitos chegaram a acreditar que com a morte de Osama Bin Laden o mundo estaria mais seguro, mas ao contrário da lógica, as causas de crescimento do terrorismo estão a cada dia mais latentes. Entre os fatores que contribuem para este contexto está a crise identitária em que vivemos e que tem proporcionado muito mais incertezas do que soluções. Outro aspecto são as diferenças de progresso e desenvolvimento entre os povos, evidenciadas com o processo de globalização da economia que diferentemente do que se sonhava trouxe uma massiva exclusão social para muitas regiões.
Assim, sentimos e observamos o florescer de uma cultura de insegurança, com o aumento da vigilância sobre os cidadãos, redução dos direitos e garantias individuais em nome de axiomas baseados em preconceitos éticos pejorativos e estereótipos que se pensava extintos com a queda do muro de Berlim e esfacelamento do império soviético há doze anos atrás. Um exemplo claro desta situação é o reaparecimento de ideologias de extrema-direita e ultra-conservadoras na Europa e Escandinávia que demonizam a figura do imigrante considerando-o como uma ameaça real à sobrevivência de sua cultura, valores, idioma e religião. É o que se denomina de xenofobia contra o multiculturalismo, sendo compartilhada e estimulada por um número maior de cidadãos do que se imagina, constituindo-se em outra face de manifestação do terrorismo, até então predominantemente atribuído a radicais islâmicos. E este novo produto foi apresentado à comunidade internacional quando dos recentes atentados na capital norueguesa e na ilha de Utoya que vitimaram 77 pessoas.
Para esta década, a conjuntura tende a recrudescer com o surgimento de outros atores dispostos a utilizar todos os meios necessários na busca de espaços. E, lamentavelmente, a tendência é de que o terrorismo, também produto de nossos medos e inseguranças permaneça ainda como um fantasma a aterrorizar o planeta, agora acrescido de outras motivações e travestido de outras formas.